Análises

Review | Space Adventure Cobra: The Awakening

Em pleno 2025, confesso que não esperava ser transportado de volta para o universo de um anime que marcou época no início dos anos 80. Space Adventure Cobra: The Awakening chegou como uma surpresa, uma verdadeira carta de amor a uma era de ficção científica com um charme muito particular. Ao mergulhar nesta adaptação para o PlayStation 5, encontrei uma celebração fiel da obra original, repleta de ação estilosa, mas que, como uma relíquia redescoberta, também carrega as marcas do tempo em seu design.

A primeira impressão é, sem dúvida, a mais forte. O jogo é um deleite para os fãs. A desenvolvedora Magic Pockets e a publisher Microids não pouparam esforços para capturar a essência da série. A aventura recria fielmente os primeiros 12 episódios do anime de 1982 , cobrindo os arcos “As Três Irmãs” e “A Arma Suprema”. Para garantir que tanto novatos quanto veteranos pudessem acompanhar a jornada, a narrativa é recheada de clipes diretamente da série de TV. Adorei como mantiveram a granulação e a estética original desses trechos, o que cria uma transição orgânica e nostálgica entre o gameplay e as cutscenes.

A apresentação visual do jogo busca um estilo cel-shaded que complementa a arte clássica , e a trilha sonora é fantástica, misturando o funk e jazz dos anos 70 que definiam o anime com novas composições que se encaixam perfeitamente. Um detalhe interessante é que, pela primeira vez, o material desses episódios recebeu uma dublagem em inglês , e o trabalho de voz foi muito bem executado, capturando a personalidade de Cobra e dos outros personagens de forma competente.

A Psicopistola ainda dispara muito bem

O coração de Space Adventure Cobra está no seu gameplay de ação e plataforma 2D. Jogar como o pirata espacial com sua icônica Psicopistola no braço é tão divertido quanto parece. O combate é polido e visceral. Eu me diverti usando o tiro carregado para eliminar múltiplos inimigos e a habilidade especial que limpa a tela.

O jogo introduz uma camada tática interessante ao exigir que eu alternasse entre as armas de Cobra. A Psicopistola é a ferramenta principal, mas alguns inimigos possuem escudos coloridos que só podem ser quebrados com sua pistola Colt Python 77 ou com ataques corpo a corpo. Uma das mecânicas mais legais é a do “Tiro Guiado”, onde é possível desenhar a trajetória de um projétil na tela para atingir alvos múltiplos ou resolver puzzles ambientais.

Os chefes são um espetáculo à parte e um dos pontos altos da experiência. As batalhas são desafiadoras e testam todas as ferramentas e habilidades que você adquire ao longo da jornada, exigindo que o jogador se mova constantemente pelo cenário para desviar de ataques e atingir pontos fracos. O jogo oferece três níveis de dificuldade, tornando-o acessível para diferentes jogadores, e os checkpoints frequentes evitam que os desafios se tornem frustrantes.

Tropeçando em um design datado

Apesar de o combate ser o ponto forte, o mesmo polimento não se estende à plataforma. A movimentação de Cobra pode parecer um pouco rígida e suas animações, um tanto “de madeira”. O uso do gancho de escalada, por exemplo, me pareceu desajeitado em vários momentos. Algumas batalhas contra chefes exigem um domínio de dashes aéreos que possuem uma curva de aprendizado.

O design de algumas fases também me pareceu arcaico. O jogo tem elementos de Metroidvania, incentivando o jogador a revisitar estágios com novas habilidades para encontrar segredos e colecionáveis. No entanto, essa exploração é prejudicada pela ausência de um mapa e por checkpoints que, por vezes, estão muito distantes um do outro, tornando o backtracking uma tarefa tediosa.

O esquema de controles padrão também levou um tempo para me acostumar, com o tiro principal mapeado em um botão de ombro (R2). Embora exista uma configuração alternativa que melhora a experiência , a incapacidade de mirar livremente com a Psicopistola enquanto se corre é uma restrição que parece contraintuitiva para um jogo tão focado em ação.

Veredito

Space Adventure Cobra: The Awakening também oferece um modo cooperativo local para dois jogadores, mas ele consiste em alguns níveis independentes e funciona mais como uma novidade divertida do que como uma parte central da experiência.

No fim, minha jornada com Cobra foi extremamente divertida, uma explosão de nostalgia que acerta em cheio ao capturar o espírito do material original. A ação é envolvente e a apresentação é um presente para os fãs. Contudo, o jogo é impedido de alcançar a grandeza por mecânicas de plataforma e um design de níveis que parecem presos no passado, além de controles restritivos que geram momentos de frustração. Para os fãs de Cobra ou de jogos de ação 2D retrô, é uma recomendação certa. Para os demais, talvez seja prudente esperar uma promoção.

Nota: 7

Uma cópia de PS5 foi cedida para realização desta análise.

Gabriel Magalhães

Criador do Forever Jogando. Produz conteúdo no segmento de jogos eletrônicos e cultura pop desde 2015. Além do FJ tem textos publicados em grandes portais, como Uol (Start) e GameHall.
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