Review | Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4: a consagração de uma era dourada no skate virtual

Após o sucesso estrondoso e merecido de Tony Hawk’s Pro Skater 1 + 2, a pergunta que ecoava em cada fórum, em cada comunidade de fãs, era inevitável: e agora? A Activision e a talentosa equipe da Vicarious Visions tinham em mãos não apenas uma franquia revitalizada, mas o peso da expectativa de uma geração inteira. A resposta chega agora, com o lançamento de Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 para os consoles de nova geração, e posso afirmar, sem hesitação: eles não apenas entenderam a tarefa, eles a executaram com a precisão de um 900 perfeitamente aterrissado.

Este não é apenas um pacote de nostalgia; é a curadoria definitiva de um período de transição e auge criativo da série. Se o primeiro remake nos lembrou por que nos apaixonamos pela série, esta nova coletânea nos mostra como essa paixão amadureceu, se aprofundou e se tornou um dos pilares da cultura dos jogos eletrônicos no início do século XXI.

Tony Hawk's™ Pro Skater™ 3 + 4 | Reveal Trailer

O peso da coroa: mais do que um simples remake

Recriar THPS 1 e 2 foi um ato de restauração. Recriar THPS 3 e 4, no entanto, é um desafio de fusão. Estamos falando de dois jogos que, embora compartilhem o mesmo DNA, representam momentos evolutivos distintos. THPS 3 foi o auge da fórmula clássica de dois minutos, refinando-a à perfeição com a introdução do revert. Já THPS 4 quebrou essa mesma fórmula, abrindo mão dos timers em favor de níveis expansivos, repletos de NPCs e objetivos que se desdobravam organicamente.

A genialidade da Vicarious Visions reside em como eles unificaram essas duas filosofias. O jogo nos oferece a opção de abordar os mapas de THPS 3 (como a fantástica Fundição, o Aeroporto e o Canadá) tanto no modo “Clássico” cronometrado quanto no modo “Carreira” de mundo aberto, similar ao de THPS 4. Essa flexibilidade é um presente para veteranos e uma porta de entrada fantástica para novatos, permitindo que cada um experiencie o conteúdo da forma que preferir.

A sinfonia do asfalto: jogabilidade e inovações

No centro de tudo, é claro, está a jogabilidade. E ela está simplesmente sublime. A física, que já era excelente em 1 + 2, parece ainda mais polida, mantendo o balanço perfeito entre o realismo arcade e a fantasia aérea que define a série.

O revert como pilar central

A adição do revert foi o que transformou THPS 3 em uma máquina de combos infinitos, e aqui, ele se integra ao sistema de manuais de forma tão fluida que é difícil imaginar que um dia existiram separadamente. Conectar um kickflip de um corrimão, aterrissar em um manual, pular para um vert, executar um McTwist e usar o revert para continuar o combo no chão é um balé de manobras que gera um fluxo de dopamina inigualável. A resposta dos controles no Xbox Series X, rodando a 120 quadros por segundo, torna cada comando instantâneo e cada combo uma extensão direta do pensamento do jogador.

Um mundo aberto sobre rodinhas: a revolução de THPS4

Os níveis de THPS 4, como Alcatraz, a Zona Universitária e o Zoológico, foram recriados com uma atenção obsessiva aos detalhes. A transição para um modelo de mundo aberto foi o grande salto daquele título, e o remake captura essa sensação de liberdade e exploração com maestria. Conversar com pedestres para pegar missões, desde as mais simples, como coletar os famosos S-K-A-T-E, até desafios complexos envolvendo sequências de manobras específicas, continua tão viciante quanto em 2002. A diferença é que agora esses mundos são mais vivos, com mais detalhes, melhores animações e uma densidade que os torna ainda mais críveis.

Uma viagem audiovisual no tempo e no espaço

Visualmente, o jogo é um espetáculo. Utilizando uma versão aprimorada da Unreal Engine, a Vicarious Visions entrega cenários que são ao mesmo tempo fiéis às suas contrapartes originais e deslumbrantemente modernos.

Gráficos que saltam da tela

A iluminação global dá uma nova vida a cada pista. Os reflexos do sol no metal da Fundição, as texturas do asfalto gasto em Alcatraz, os modelos de personagens detalhados e as animações faciais dos skatistas (um elenco que novamente mistura lendas como Kareem Campbell e Bucky Lasek com novos talentos do esporte) são de um padrão altíssimo. É o tipo de tratamento visual que a memória afetiva merece.

A trilha sonora de uma geração (com um toque moderno)

Ah, a trilha sonora. A Activision claramente não mediu esforços para garantir a maior parte do licenciamento original. Ouvir “Ace of Spades” do Motörhead enquanto se dropa no Canadá ou “The Rockafeller Skank” do Fatboy Slim ainda causa o mesmo arrepio. Clássicos do CKY, Ramones, e Public Enemy estão de volta, mas, assim como no remake anterior, a seleção foi expandida com novas bandas que se encaixam perfeitamente no espírito punk rock e hip-hop da franquia, garantindo que a vibe se mantenha fresca.

Construindo o seu legado: multiplayer e criação

Os modos online foram robustecidos. Além dos clássicos “Graffiti”, “Trick Attack” e “Horse”, temos agora lobbies sociais aprimorados e um sistema de temporadas com desafios e recompensas cosméticas que incentivam o engajamento contínuo.

O modo “Create-A-Park”, que já era um destaque em THPS 1+2, recebeu uma injeção de novos elementos e peças, muitas delas inspiradas nos ambientes de THPS 3 e 4. A facilidade de compartilhar e baixar parques criados pela comunidade garante uma longevidade virtualmente infinita ao pacote.

Nem tudo são manobras perfeitas: os pequenos arranhões

Seria este o jogo de skate perfeito? Quase. A transição entre os dois estilos de jogo, embora bem implementada, pode causar um leve estranhamento inicial para quem não está familiarizado com a evolução da série. Além disso, alguns dos objetivos mais “excêntricos” de THPS 4, como interagir com animais ou participar de missões que pouco envolvem skate, embora fiéis ao original, podem quebrar o ritmo para os puristas focados apenas nas manobras. São, no entanto, críticas mínimas em um oceano de acertos.

Veredito

Tony Hawk’s Pro Skater 3 + 4 é mais do que uma sequência de um remake de sucesso; é a conclusão triunfante de um projeto de restauração cultural. A Vicarious Visions mais uma vez prova que entende a alma desta série como ninguém. Eles pegaram dois dos jogos mais importantes e amados de todos os tempos e os apresentaram para uma nova geração sem sacrificar absolutamente nada de sua essência, aprimorando cada aspecto possível.

É uma cápsula do tempo interativa, um pacote de conteúdo absurdamente generoso e, acima de tudo, uma celebração da alegria pura e simples de andar de skate. Um título essencial não apenas para fãs, mas para qualquer pessoa que aprecie um design de jogo arcade impecável. A era de ouro do skate virtual está de volta, e ela nunca esteve tão reluzente.

Nota: 8/10

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