Análises

Review | MADO MONOGATARI: Fia and the Wondrous Academy

Após um longo hiato, a franquia Mado Monogatari, conhecida no ocidente principalmente por ser a série de origem do imensamente popular jogo de quebra-cabeças Puyo Puyo, retorna ao cenário dos games. MADO MONOGATARI: Fia and the Wondrous Academy chega com a promessa de revitalizar suas raízes de RPG e dungeon crawler, apresentando uma nova aventura ambientada em uma academia de magia. O resultado é uma experiência que transborda charme e humor, mas que, em sua busca por uma abordagem leve e acessível, pode não satisfazer os veteranos mais exigentes do gênero.

Este título nos coloca no papel da jovem e otimista Fia, uma aspirante a maga que, seguindo os passos de sua avó, viaja para a renomada Academia de Magia Antiga. Com uma sorte extraordinária, ela é admitida de forma inusitada, dando início a uma jornada de aprendizado, amizade e muitas confusões.

Uma Academia de Magia cativante e seus alunos peculiares

A narrativa de Mado Monogatari: Fia and the Wondrous Academy não se leva a sério, e esse é um de seus maiores trunfos. O jogo abraça uma lógica de anime cômico, onde os problemas são frequentemente resolvidos por meio do poder da amizade ou pela pura sorte de Fia e seu companheiro Carbuncle. A protagonista é acompanhada por um elenco de “adoráveis desastres”, um grupo de estudantes delinquentes que os professores parecem ansiosos para expulsar.

Entre os personagens principais estão:

  • Will, um rapaz que sonha em se tornar um herói e vive tentando dar nomes grandiosos aos seus ataques.
  • Leena, uma maga talentosa, mas socialmente desajeitada, que pode ser comparada a Hermione Granger da série Harry Potter. Ela começa de forma ríspida, mas gradualmente se abre para seus amigos.
  • Totto, um tipo mercantilista que vê as conversas como oportunidades de negócio.
  • Eska, uma dragonoide com tradições peculiares que, após ser derrotada por Fia, desenvolve uma fixação bizarra pela heroína.

Essa dinâmica entre personagens gera momentos genuinamente engraçados e caóticos, embora alguns diálogos e personalidades possam ser irritantes para alguns jogadores, com a voz aguda de Fia sendo um ponto de discórdia em algumas análises.

A Jogabilidade

A estrutura de jogo alterna entre a vida na academia e a exploração de masmorras. Essa rotina oferece uma boa variedade, quebrando a monotonia que poderia se instalar.

Exploração de masmorras (dungeon crawling)

O núcleo da jogabilidade está nas expedições a masmorras geradas aleatoriamente, onde o objetivo é subir andar por andar. A exploração é governada por uma barra de vitalidade, que diminui à medida que o jogador avança ou ativa armadilhas, tornando o gerenciamento de recursos um fator importante.

Apesar da premissa sólida, um ponto fraco notado por múltiplos críticos é a repetitividade. Tanto o design dos inimigos, que frequentemente são apenas variações de cor de modelos já vistos, quanto os ambientes das masmorras carecem de variedade visual, o que pode tornar a exploração prolongada um tanto monótona.

Combate em tempo real

O sistema de batalha ocorre em tempo real, com uma linha do tempo que dita a ordem das ações, similar ao sistema ATB de Final Fantasy. Os jogadores controlam Fia diretamente enquanto seus companheiros seguem instruções de IA. O posicionamento é crucial para desviar de ataques inimigos.

O grande destaque do combate é o sistema de Great Magic Arts. Ao usar magias elementais, os personagens geram orbes que, quando combinados corretamente, permitem desferir ataques poderosos que atingem todos os inimigos. Essa mecânica adiciona uma camada estratégica interessante, embora os combates contra inimigos comuns possam se tornar repetitivos, muitas vezes resumindo-se a ataques básicos.

Vida na academia

Fora das masmorras, o jogo oferece elementos de simulação de vida escolar. Fia pode aprimorar suas habilidades e aprender novos feitiços através de seu Grimório, que funciona como uma árvore de talentos. A progressão está atrelada à conclusão de aulas e missões, que concedem os pontos necessários para desbloquear novas habilidades.

Atividades secundárias como pesca, culinária e jardinagem também estão presentes. Enquanto alguns veem isso como uma adição bem-vinda que quebra o ritmo, outros consideram essas mecânicas um tanto superficiais e não essenciais para a progressão.

Apresentação audiovisual: altos e baixos

Visualmente, Mado Monogatari é uma mistura. Por um lado, as ilustrações e os retratos dos personagens são vibrantes, expressivos e repletos de personalidade, sendo um dos pontos altos do jogo. Por outro, os modelos 3D dos personagens durante a exploração e o combate são mais simples e “rígidos”, e os ambientes das masmorras, como mencionado, são genéricos. O estilo de arte “chibi” (pequeno e fofo) usado na exploração combina bem com o tom geral do jogo.

A trilha sonora é predominantemente alegre e leve, complementando bem a atmosfera descontraída. O trabalho de voz em japonês foi elogiado por capturar as excentricidades do elenco, embora a voz de Fia tenha sido considerada aguda e potencialmente irritante por alguns.

Veredito

MADO MONOGATARI: Fia and the Wondrous Academy é um RPG que aposta todas as suas fichas no charme, no humor e na simplicidade. É um “cosy dungeon crawler”, uma experiência leve e divertida que não exige do jogador um grande investimento em estratégias complexas ou o acompanhamento de uma trama densa.

Para quem este jogo é recomendado? Para jogadores que buscam uma aventura descontraída e bem-humorada, fãs de animes de comédia e aqueles que apreciam RPGs com sistemas mais simples e diretos. Fãs da antiga série Mado Monogatari ou de Puyo Puyo também encontrarão um valor nostálgico especial.

Quem deve pensar duas vezes? Jogadores hardcore de RPG que procuram profundidade mecânica, um desafio significativo ou uma narrativa complexa e madura provavelmente se sentirão desapontados. A repetitividade e a falta de profundidade são suas maiores barreiras.  O custo-benefício pode ser um ponto de interrogação para alguns, que podem sentir que o jogo oferece menos conteúdo e polimento do que outros RPGs no mercado. Talvez seja o tipo de título perfeito para se adquirir em uma promoção.

No final, Fia and the Wondrous Academy consegue ser cativante. Seu calor e sua dedicação à sua própria tolice são contagiantes. É um jogo que, apesar de suas falhas, deixa um sorriso no rosto e o desejo de que esta série não desapareça por mais uma década.

Nota: 7,5

Uma cópia de PS4 foi cedida gentilmente para a realização desta análise.

Gabriel Magalhães

Criador do Forever Jogando. Produz conteúdo no segmento de jogos eletrônicos e cultura pop desde 2015. Além do FJ tem textos publicados em grandes portais, como Uol (Start) e GameHall.
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