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Análise | 1000xRESIST

O trabalho de estreia do estúdio Sunset Visitor é, sem meias palavras, uma obra-prima narrativa. É o tipo de experiência que me lembra por que os games são uma forma de arte única. Este não é um jogo para quem procura ação intensa ou jogabilidade desafiadora. Pelo contrário, 1000xRESIST é uma densa aventura de ficção científica, quase um romance visual , que utiliza suas mecânicas de jogo “leves” com um único propósito: aprimorar sua história. E que história.

O fim do mundo foi só o começo

A premissa de 1000xRESIST começa cerca de mil anos no futuro. A humanidade foi quase extinta por uma espécie alienígena conhecida como “Os Ocupantes”. Eles não usaram bombas; trouxeram uma doença terrível que faz com que os infectados chorem até que todos os fluidos corporais sejam violentamente expelidos.

Os “sobreviventes” são um grupo de clones. Todas são irmãs, vivendo em um bunker subterrâneo chamado “Guarden” (ou “Orchard”) , servindo devotadamente a sua criadora, a ALLMOTHER. Nós assumimos o papel de Watcher (Observadora). Ela tem uma função única: através de um processo chamado “Comunhão”, ela pode reviver as memórias da ALLMOTHER. A ALLMOTHER original era Iris, uma estudante do ensino médio que, por acaso, era imune à doença alienígena.

Análise 1000xRESIST

É durante a primeira Comunhão de Watcher que a trama se desenrola. Enquanto revive a vida de Iris no ensino médio, pouco antes do apocalipse, outra clone, Fixer, invade a memória para dar um aviso: a ALLMOTHER está mentindo, e nada no bunker é o que parece.

Uma jogabilidade a serviço da yrama

Se você espera combate, gerenciamento de inventário ou árvores de habilidades, pode procurar em outro lugar. A jogabilidade de 1000xRESIST é dividida em dois segmentos claros. O primeiro é explorar o “Guarden” no presente. Aqui, você anda, interage com suas irmãs clones e absorve a construção do mundo. Cada irmã, Principal, Knower, Fixer, Healer, Bang Bang Fire,  tem uma personalidade distinta e bem desenvolvida, apesar de serem clones.

O segundo segmento é a “Comunhão”, onde a maior parte da jogabilidade leve acontece. Ao mergulhar nas memórias de Iris, você ganha uma habilidade tecnológica que permite saltar para frente e para trás no tempo. Um quebra-cabeça pode envolver uma porta bloqueada no presente; basta pular para um ponto futuro onde a passagem está livre, atravessar, e voltar ao tempo atual. Nenhum desses desafios é complexo, servindo mais como uma pausa interativa entre diálogos densos.

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Há também segmentos de travessia que lembram Gravity Rush, onde você mira em pontos brilhantes e se “lança” por grandes distâncias ou para áreas altas. É estilizado e complementa a sensação de estar em um sonho ou memória. Tudo isso existe para apoiar a narrativa. O jogo é composto principalmente de diálogos , e felizmente, a escrita é brilhante.

O triunfo da história e seus temas

Onde 1000xRESIST realmente se estabelece como um dos títulos mais importantes do ano é em sua coragem temática. O jogo é uma exploração profunda e implacável de temas pesados, tratados com uma graciosidade rara. Estamos falando de trauma geracional, opressão, a experiência da diáspora e imigração, memória e feminilidade.

A narrativa se desenrola como um mistério, alimentando o jogador com respostas na medida certa, enquanto levanta ainda mais perguntas intrigantes. O roteiro é auxiliado por um elenco de voz soberbo ; cada linha de diálogo do jogo é totalmente dublada , com atuações apaixonadas e realistas que dão vida a esses personagens complexos e falhos.

Conclusão

Nenhum jogo é perfeito, e 1000xRESIST tem alguns problemas de usabilidade que quebram a imersão. A queixa mais universal é a navegação no hub. O “Guarden” é um labirinto. É frustrante tentar encontrar irmãs específicas para objetivos opcionais , e mesmo após horas de jogo, eu me via perdido em seus corredores e níveis confusos. Um crítico o chamou de “miserável de atravessar”, e é uma avaliação com a qual concordo.

Além disso, o sistema de salvamento pode ser confuso. Salvar no meio de um capítulo nem sempre registra seu progresso exato; em vez disso, ele pode recarregar o início daquele capítulo. Embora o desenvolvedor tenha esclarecido que certos pontos são bloqueados para salvamento intencionalmente, a falta de clareza pode levar à perda de progresso.

O Bom:

  • Uma narrativa magistral, inovadora e emocionalmente ressonante.
  • Escrita brilhante e atuações de voz estelares para todo o elenco.
  • Personagens clones com personalidades distintas, falhas e realistas.
  • Temas profundos (trauma, diáspora, memória) tratados com sutileza.
  • Direção de arte e trilha sonora fantásticas.

Contras

  • Navegar pelo hub (“Guarden” / “Orchard”) é frustrante e labiríntico.
  • A jogabilidade é pouco complexa, sem avanços técnicos e e pode não agradar a todos.

Veredito

1000xRESIST é denso, às vezes opressor , e seu diálogo pode ser artístico e metafórico, exigindo que você “leia nas entrelinhas”. Certamente não é para todos. No entanto, para aqueles que apreciam uma boa história, este jogo é um testamento do que a mídia é capaz de fazer. É uma experiência singular que o fará rir em um minuto, segurar as lágrimas no próximo e murmurar “O que diabos?” logo em seguida. Sunset Visitor entregou um dos roteiros mais inovadores e importantes da história recente dos games. É uma obra de arte que ficará comigo por muito tempo , e uma que você absolutamente precisa jogar.

Nota: 8,5

Uma cópia foi gentilmente fornecida para a realização desta análise.

Gabriel Magalhães

Criador do Forever Jogando. Produz conteúdo no segmento de jogos eletrônicos e cultura pop desde 2015. Além do FJ tem textos publicados em grandes portais, como Uol (Start) e GameHall.
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